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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Jornalismo Investigativo: Mercado de trabalho e perspectivas profissionais

O jornalismo investigativo dá trabalho. É uma tarefa complexa, além de perigosa. A atividade não se compara a rotina normal das redações. Para investigar, ir a fundo, é preciso ter faro, 'malícia', visão ampliada, talento, tempo, dinheiro, paciência e muita sorte. O ofício chega a ser denominado dom, que precisa ser aprimorado no dia a dia.
Tim Lopes, jornalista assassinado aos 51 anos por traficantes no Rio de Janeiro, correu todos os riscos que achou que deveria correr. Se infiltrou em favelas, chegou muito perto do perigo, tudo para extrair informações secretas. O que leva muitas pessoas abraçarem essa missão é a paixão obstinada por mudanças e reformas que possam transformar realidades. Os resultados não são tão recompensadores. Por isso, muitos jornalistas preferem desfrutar do descanso do silêncio a enfrentar o tsunami que vem com a verdade.
Um levantamento feito pelo site Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), em 2002, revela que a maior parte dos processos contra jornalistas e empresas de comunicação é impetrada por juízes, promotores, advogados e políticos. Quem está disposto a enfrentar, os responsáveis por estabelecer leis? Grandes empresas, como as Organizações Globo, investem em investigação, considerando que todo o esforço e investimento podem trazer resultados recompensadores por meio de grandes reportagens. O mesmo não acontece com as empresas de pequeno porte, por que elas não têm condições de bancar os riscos e de arcar com as consequências. Duas questões que merecem destaque: o jornalista que tem medo de ousar, sabendo que carreira e até mesmo a vida estão em jogo, e a empresa que recua ao dimensionar os resultados de uma investigação.
Já os veículos de comunicação quem adotam esse perfil investigativo, têm sentido dificuldades em encontrar equipes experientes para produzir um material de qualidade. O mercado de trabalho para essa especialização é cheio de curiosos, mas apenas isso não basta. É preciso técnica e experiência. A curiosidade pode motivar atos ingênuos que podem trazer consequências individuais e coletivas. O bom senso faz parte do profissionalismo, como destaca Leandro Fortes no livro Jornalismo Investigativo:

A disposição pessoal em investigar, por incorrer em riscos, deve ser pautada pelo bom senso e pelo conselho dos amigos, para aqueles que os têm, é claro. A busca enlouquecida pela verdade, por mais digna e respeitável que seja, não pode tomar o lugar da responsabilidade profissional, muito menos expor um repórter à sandice de criminosos. (FORTES, p.73, 2005)

Para fazer jornalismo investigativo, o profissional entra com habilidades e competência de um detetive e a empresa entra com apoio financeiro e se compromete em responder pelos resultados. Mas nem mesmo todo o suporte oferecido pela TV Globo livrou Tim Lopes dos traficantes. A morte do jornalista, mobilizou a consciência da classe. Quem já tinha receio, agora impôs ainda mais limites na investigação. Com isso, o mercado de trabalho ficou ainda mais carente de profissionais especializados nessa área. Profissionais que assim como Tim, entre fundo no assunto por meio da vivência pessoal.
Mas hoje, para quem tem espirito de detetive, a internet é peça fundamental. Navegar com paciência e atenção pode fornecer ao jornalista informações valiosas e ele ainda pode dar furos sem sair de casa. O segredo na investigação na internet é que não há segredos. Uma especulação quando cai na rede já se torna uma fonte que justifica o interesse de profissionais em obter respostas para determinadas situações. É como afirma Cláudio Júlio Tognolli em um artigo publicado no livro Jornalismo Investigativo de Leandro Fortes: “o estatuto da investigação via net, como se vê, é o estatuto do delírio controlado”. O que antes, era ingenuidade, o ato de extrair informações soltas na internet, hoje já é sinônimo de esperteza. Elas podem ser o início de grandes descobertas. Hoje um jornalista não pode começar um trabalho sem antes ter passado pelo menos três horas em um Google da vida. Somente depois, ele vai à campo com o bloquinho de notas cheios de “dúvidas”. Afinal, perguntar não ofende e responder é o dever de quem é responsável por mudar realidades. Quanto ao furo? Dar sempre para extrair uma boa informação, e inédita, do todo. Basta ser rápido e atento. Pensar nas possibilidades. Nesses moldes, a investigação não é tão polêmica, como os velhos, bons e experientes jornalistas adoram, mas certamente, é bem mais segura.
O repórter investigativo Xico Sá, prefere a sátira quando o assunto é denunciar. Esse é um método antigo que tem ganhado características bem atuais. Seja esse, talvez, o método mais frequente utilizado por novos jornalistas, por aqueles que não têm a pretensão de ser mártir, mas é que, não conseguem ficar quietos diante de tanta hipocrisia e descaso com realidades absurdas.
O mercado de trabalho para jornalistas especializados em investigação aprofundada, de fato, é restrito. Por isso as grandes reportagens são furos, são raras, merecem prêmios. A fama da imprensa se faz justamente com ações corajosas. A investigação tem limites, mas não fim. E a função, é privilégio de quem trabalha pelo olfato e corre atrás. Devagar e sempre.


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